Mudando o Mindset: Como as Empresas podem se Reinventar
As empresas em geral parecem sofrer de um vício de origem em seu mindset de negócios: o foco na resolução problemas e “apagamento de incêndios”, ao invés do foco nas possibilidades presentes e futuras. Assim, ao invés de se preocupar com a retenção dos colaboradores, pensam no turnover. Ao invés de se concentrar na excelência no atendimento, tentam resolver os gargalos das reclamações dos clientes. Estudam como resolver o problema do assédio sexual no lugar de fomentar um relacionamento positivo e produtivo entre gêneros. É evidente que muita coisa pode ser melhorada numa organização quando resolvemos problemas, mas é fato também que seria muito mais eficiente voltar os esforços organizacionais para as potencialidades, forças, talentos e histórias de sucesso – aquilo que vitaliza uma empresa.
Esse “foco no problema” tem razões neurológicas: como seres humanos, nossos cérebros foram evolutivamente programados para dar uma atenção extraordinária às emoções negativas como o medo, por exemplo. Isso tem uma razão: sem o medo, provavelmente já teríamos perecido enquanto espécie. Imagine o ambiente há 40.000 anos: foi o medo que nos permitiu sobreviver num mundo perigoso, repleto de ameaças físicas mortais (animais selvagens mais fortes e rápidos do que nós, comidas e plantas venenosas, intempéries climáticas incompreensíveis para os hominídeos daquele período e por ai vai).
O medo, a raiva e a tristeza foram e continuam sendo parte fundamental da experiência humana, imprescindíveis inclusive, para a manutenção da nossa saúde física e mental. Mas a Psicologia Positiva e suas extensivas pesquisas têm mostrado que existe um outro lado: amor, alegria, confiança, gratidão e perdão podem fazer a diferença entre uma vida medíocre e uma existência plena de felicidade e realização.
O mesmo princípio é válido para as organizações: ao estudar, analisar e focar os problemas (que friso, devem ser resolvidos), as empresas reforçam um mindset negativo: resolver problemas e apagar incêndios constitui-se no dia-a-dia do “business as usual”. Uma das metodologias ligadas ao movimento da Psicologia Positiva que ajuda a transformar esse componente cultural é a chamada Investigação Apreciativa (IA).
Na IA, o “pulo do gato” é fazer com que as pessoas consigam olhar para os problemas e transformá-los em tópicos afirmativos, que são positivos e propositivos, dirigindo a atenção e a linguagem das pessoas para “aquilo que pode ser”, ao invés “daquilo que não deveria ser”. Transforma o discurso do déficit e do gap num discurso de possibilidades, oportunidades e numa visão de futuro desejado. Ao mudar a linguagem, muda-se o pensamento, transforma-se a realidade.
Os cínicos de plantão poderiam então perguntar: “tudo isso é muito bonito, mas e os problemas? Não vão ser analisados? Não vão ser resolvidos?” É claro que vão, mas de outra maneira. Um dos princípios básicos da IA é chamado de Princípio Antecipatório, que preconiza que as empresas se desenvolvem na direção daquilo que investigam e estudam. Ao olhar para o que desejamos, aquilo que não desejamos automaticamente é reformulado. Não acredita? Empresas como a Nutrimental no Brasil e a NASA, Verizon e British Airways nos EUA e Europa, por exemplo, vêm utilizando a metodologia com sucesso tangível e mensurável nos últimos anos.
Em minha experiência, porém, a IA peca num aspecto fundamental: execução e sustentabilidade da mudança cultural. Principalmente no Brasil, onde os modelos de gestão são extremamente tradicionais e onde se arrisca e experimenta muito pouco, essas deficiências parecem ficar mais salientes. Por isso considero que o modelo pode ser combinado com outras metodologias para enfatizar principalmente o aspecto da execução. O design thinking e o action learning, dependendo do caso, por exemplo, podem dinamizar o IA e torná-lo mais efetivo nas culturas empresariais tradicionais e mais impermeáveis.
Não resta dúvida que a Psicologia Positiva pode ajudar as empresas a obter um desempenho superior. Basta que os gestores e líderes empresariais brasileiros sejam sensibilizados para as potencialidades que essas novas ideias podem gerar no ambiente de negócios, desbloqueando todo o enorme potencial criativo que já se encontra no interior das organizações, incubado e aguardando um “chacoalhão” que lhes possa dar à luz.